Capítulo 14
NO DIA SEGUINTE, observei Maxon discretamente durante o café
da manhã. Fiquei imaginando o quanto ele sabia sobre as pessoas que perdiam
suas castas no sul. Apenas uma vez ele olhou na minha direção, mas parecia mais
interessado em algo próximo a mim do que propriamente em mim.
Sempre que me
sentia desconfortável, baixava a mão e tocava o botão dado por Aspen; eu o
tinha atado a uma fitinha para servir de bracelete. Aquilo me ajudaria a
superar meu tempo no palácio.
Quase ao fim da
refeição, o rei levantou-se e todas viramos para ele.
— Como há tão
poucas de vocês agora, pensei que seria bom tomarmos um chá amanhã à noite,
antes do Jornal Oficial. Visto que uma de vocês será nossa nora, a
rainha e eu gostaríamos de ter mais oportunidades de conversar com vocês,
conhecer seus interesses e outras coisas.
Fiquei um pouco
nervosa. Relacionar-se com a rainha era uma coisa, mas eu não sabia ao certo o
que pensar do rei. Enquanto as outras garotas o observavam ansiosas, eu bebia
meu suco.
— Por favor,
apareçam uma hora antes do Jornal Oficial na sala de estar do
primeiro andar. Vocês terão notícias nossas antes de nos ver — concluiu ele,
com uma risada, retribuída pelas meninas.
Logo depois, as
garotas seguiram rumo ao Salão das Mulheres. Respirei fundo. Às vezes aquele
salão, por sua enormidade, me dava claustrofobia. Eu geralmente tentava estar
com as pessoas ou usar o tempo livre para ler. Aquele, porém, seria um dia de
Celeste: sentar-me em frente à TV e desligar a cabeça.
Mais fácil falar do
que fazer: as meninas pareciam mais falantes naquele dia.
— Fico imaginando o
que o rei quer saber de nós — tagarelou Kriss.
— Só precisamos nos
lembrar de tudo o que Silvia nos ensinou sobre compostura — comentou Elise.
— Espero que minhas
criadas preparem um bom vestido para amanhã à noite. Não quero passar pelo que
passei no Halloween. Elas são tão cabeças de vento às vezes — Celeste soltou.
— Queria que o rei
deixasse a barba crescer — disse Natalie, pensativa. Olhei para trás e a vi
acariciando uma barba imaginária em seu queixo. — Acho que ele ficaria bem.
— É, com certeza —
falou Kriss em tom de brincadeira, antes de sair.
Balancei a cabeça e
tentei focar no espetáculo ridículo diante de meus olhos. Não importava o
quanto tentasse, eu não conseguia me desligar da conversa das outras.
Na hora do almoço,
eu já estava uma pilha de nervos. O que ele gostaria que eu – a menina de casta
mais baixa a permanecer na disputa – dissesse? O que ele gostaria de conversar
com a moça de quem esperava tão pouco?
O rei Clarkson
estava certo. Ouvi a melodia ondulante do piano bem antes de encontrar a sala
de estar. O músico era bom, com certeza melhor que eu.
Hesitei antes de
entrar. Decidi que faria uma pausa antes de dizer qualquer coisa, para pensar
bem em cada palavra. Dei-me conta de que queria provar que o rei estava errado.
Também queria provar que o repórter estava errado. Mesmo se perdesse, não
queria chegar em casa como uma perdedora. E fiquei surpresa com o quanto tudo
aquilo importava para mim.
Cruzei a porta, e a
primeira pessoa que vi foi Maxon, de pé no fundo da sala conversando com Gavril
Fadaye. Gavril apreciava uma taça de vinho em vez de chá. O apresentador logo
perderia a atenção de Maxon, que cravou os olhos em mim. Eu poderia jurar que
seus lábios tomaram a forma de um “uau”.
Virei para o lado e
saí, corada. Arrisquei um olhar para Maxon e notei que ele acompanhava meus
movimentos. Era difícil pensar racionalmente quando ele me olhava daquele
jeito.
O rei Clarkson
conversava com Natalie em um dos cantos, ao passo que a rainha Amberly falava
com Celeste em outro. Elise bebia chá e Kriss dava voltas pelo saguão.
Observei-a passar por Maxon e Gavril, para quem abriu um sorriso terno. Ela
comentou algo que fez ambos rirem e continuou a andar, o que não a
impediu de lançar um olhar para trás na direção de Maxon.
Kriss veio até mim
em seguida.
— Você está
atrasada — foi sua bronca de brincadeira.
— Eu estava um
pouco nervosa.
— Ah, não há nada
com que se preocupar. Foi até divertido.
— Já foi a sua vez?
Se o rei já tinha
falado com pelo menos duas meninas, teria menos tempo para me preparar do que
imaginava.
— Sim — respondeu
Kriss. — Sente-se comigo. Podemos tomar um chá enquanto você espera.
Kriss me conduziu a
uma mesa; uma criada apareceu assim que nos sentamos, botando chá, leite e
açúcar na nossa frente.
— O que ele
perguntou? — quis saber.
— De fato, foi mais
um bate-papo. Não acho que ele queira informações exatas. Parece mais querer
conhecer nossas personalidades. Consegui fazê-lo rir uma vez! — exultou. — Fui
muito bem. E você é engraçada por natureza. É só falar com ele como você fala
com os outros que estará bem.
Fiz que sim com a
cabeça antes de pegar minha xícara de chá. Kriss fez a situação parecer o.k.
Talvez o rei tivesse que se dividir. Tinha que ser frio e decidido para lidar
com as ameaças ao país, agir de maneira rápida e firme. No momento, porém, ia
enfrentar apenas um chá com um bando de meninas. Não precisaria ser daquele
jeito conosco.
A rainha tinha se
afastado de Celeste e agora estava falando com Natalie. A expressão de Natalie
era incrível. Tive raiva de seu ar sonhador por um momento, mas sua postura era
simples e leve.
Dei outro gole no
chá. O rei Clarkson aproximou-se de Celeste, que lhe deu um sorriso sedutor.
Foi meio espantoso: quais seriam os limites dela?
Kriss se inclinou
para tocar meu vestido.
— O tecido é
maravilhoso. Com seu cabelo, você parece um pôr do sol.
— Obrigada — eu
disse, de olhos meio fechados. A luz tinha refletido no colar dela, e aquela
explosão prateada em seu pescoço me cegou por um instante. — Minhas criadas são
muito talentosas — concluí.
— Com certeza.
Gosto das minhas, mas se for escolhida princesa, vou roubar as suas!
Ela riu, talvez
considerando suas palavras uma piada, talvez não. Em todo caso, não gostei de
imaginar minhas criadas costurando as roupas dela. Mesmo assim, forcei um
sorriso.
— O que é tão
engraçado? — perguntou Maxon, aproximando-se.
— Papo de menina —
respondeu Kriss, de um jeito provocante. Ela estava mesmo acesa naquela noite.
— Estou tentando acalmar America. Ela está nervosa com a conversa com seu pai.
Muito obrigada, Kriss.
— Você não tem nada
com que se preocupar. Seja natural. Você já está fantástica — disse Maxon. Ele
abriu um sorriso fácil, claramente com o intuito de reativar nossas vias de
comunicação.
— Foi o que eu
disse! — exclamou Kriss.
Os dois olharam-se
e fiquei com a impressão de que formavam uma equipe. Estranho.
— Bem, vou
deixá-las continuar com o papo de menina. Até logo.
Maxon nos
cumprimentou com a cabeça e foi para junto da mãe.
Kriss suspirou
enquanto observava Maxon afastar-se.
— Ele é mesmo
demais — comentou, antes de me dar um sorrisinho e ir falar com Gavril.
Fiquei observando
aquela dança curiosa diante de mim: pessoas formavam pares para conversar e
depois separavam-se para encontrar outros. Fiquei até feliz quando Elise veio
para o meu canto, embora ela não tenha falado muito.
— Ah, senhoritas, o
tempo fugiu de nós — anunciou o rei. — Precisamos descer.
Conferi o relógio
da sala. O rei estava certo: tínhamos cerca de dez minutos para descer e nos
aprontar.
Meus sentimentos
com relação à vida de princesa, a Maxon e todo o resto pareciam não importar. O
rei evidentemente me via como uma candidata tão improvável que não queria
perder tempo falando comigo. Fui excluída, talvez de propósito, e ninguém
notou.
Aguentei firme
durante o Jornal Oficial. Aguentei até a hora de dispensar as
criadas. Assim que fiquei sozinha, desabei.
Não saberia como me
explicar quando Maxon batesse à minha porta. Mas isso acabou não importando.
Ele nem apareceu. E não pude deixar de me perguntar com quem ele estaria.
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